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quarta-feira, 27 de julho de 2016

O caso de Marina Joyce, CHEMTRAILS e a construção de mitos na internet.





















O recente caso da Youtuber Marina Joyce nos serve muito bem para compreendermos um pouco mais o processo de criação de mitos na internet. Trata-se de um assunto ainda pouco compreendido por grande parte das pessoas. Mas de fato, a internet é hoje uma potente máquina de criação de mitos e folclores. Nunca se viu em toda nossa história algo parecido. A necessidade natural que o homem possui para criar mitos remonta à Grécia Antiga e muito mais além. Mesmo assim poeta grego algum poderia imaginar que num mundo moderno, aparentemente esclarecido e racional como o nosso, a proliferação de mitos seria algo tão comum.

O processo é muito simples. Ele surge fundamentado em certos aspectos reais. O mito não surge do nada, baseado em coisa alguma. Ele normalmente se desenvolve a partir de um ou mais dados reais. No caso de Joyce as proposições inciais foram:

1) Em seus últimos vídeos ela apresentava olhar confuso e semblante de medo.
2) Em um de seus vídeos podia se ver ao fundo uma arma encostada na cômoda.
3) Foram vistos hematomas nos braços e pernas da youtuber.
4) Em um de seus vídeos, podia se ver no reflexo de seu olho a imagem de um "homem" ou vulto.
5) Um de seus fãs pediu que se ela estivesse em apuros, respondesse o comentário com um smile de gatinho, e aparentemente ela correspondeu.

Baseado neste conjunto de proposições infere-se por fim a teoria: "Joyce estaria em carcere privado e tentando pedir socorro através de mensagens subliminares em seus vídeos."

A partir do momento que a teoria está consolidada, inicia-se a construção do mito. Toma-se como verdade a teoria e dai em diante e paulatinamente toda e qualquer nova informação, seja falsa ou verdadeira, é usada para endossar a teoria. Cada movimento feito por ela, cada vídeo novo, cada expressão, cada objeto q apareça, cada elemento novo que surgir é instantaneamente agregado para reforçar a teoria/mito. 

O que as pessoas não percebem é que a internet nunca provê dados objetivos. Todos os dados na internet são parciais e verídicos somente de forma isolada. Por exemplo, a proposição "Em um de seus vídeos podia se ver ao fundo uma arma encostada na cômoda", é verdadeira. Sim, de fato podia se ver uma arma encostada na cômoda. A proposição em si é verdadeira, mas a sua conclusão lógica é falsa. vejamos a silogismo a seguir:

Premissa 1) Em um de seus vídeos podia se ver ao fundo uma arma encostada na cômoda.

Premissa 2) Um de seus fãs pediu q se ela estivesse em apuros, respondesse o comentário com um "smile de gatinho", e aparentemente ela correspondeu.

Conclusão: Ela foi vítima de sequestro e se encontra em carcere privado. 

Observe que as duas premissas são verdadeiras, mas a conclusão extraída delas é falsa. É dessa forma que todas as lendas, mitos e folclores em nossa história surgiram. A diferença para os dias de hoje é o dinamismo da internet. São milhões de pessoas interagindo com o tema de forma simultânea e compartilhando suas informações, teses e conclusões. Isso faz com que um mito possa surgir, ganhar consistência e se disseminar pelo mundo todo em questão de horas ou dias. No caso de Joyce, o que desbancou o mito foi a averiguação empírica, ou seja, a ida efetiva dos policiais na casa da adolescente. Mas em muitos dos mitos da internet, essa averiguação não pode ser feita o que mantém o mito intacto por tempo indeterminado. 

Quase todas as chamadas "teorias da conspiração" são mitos criados dessa forma. A maioria deles até possui fundamento real. Ou seja, são baseados em proposições que de forma isolada podem ser verdadeiras. Mas a teoria em si é uma conclusão falsa dessas premissas. Podemos tomar diversos assuntos para exemplificar, mas o mais interessante deles não poderia ser outro se não a teoria da Geoengenharia Global.

Por volta de 2008 nos EUA e por volta de 2011 no Brasil, disseminou-se na internet a teoria de que o planeta estaria sendo vítima de um esquema secreto de pulverização global, visando o controle climático. A teoria é extremamente bem engendrada e se fundamenta em uma centena de proposições das quais muitas são verdadeiras (de forma isolada). Trata-se de uma teoria muito bem construída. E como sua verificação empírica é muito difícil de ser realizada, sua refutação se torna difícil. Mas não impossível.   

A teoria se sustenta em algumas proposições fundamentais. É claro que depois que a teoria se solidificou, uma torrente de novas proposições surgiram reforçando o mito. Mas as proposições básicas são:

1) Contrails (rastros de condensação) não persistem no céu por mais que alguns minutos.

2) Contrails persistentes estão sendo vistas no mundo todo e antes não eram vistas

3) Durante a guerra do Vietnã, os EUA usou aviões para borrifar produtos na atmosfera e fazer chover.

4) Já é de domínio público algumas patentes que tratam da pulverização de aerosóis para fins de controle climático.

5) Testes de solo indicaram níveis elevados de alumínio.

Tais proposições levaram a concluir que "existe um projeto secreto de pulverização atmosférica global em andamento nos dias de hoje".

No entanto, a primeira proposição, que é uma das mais fortes nesse cenários, pode ser facilmente refutada. A ideia de que trilhas de condenação são efêmeras e não podem persistir no céu é uma alegação baseada em senso comum. Na verdade o fenômeno da condensação atmosférica é muito mais vasto e complexo do que pode supor o senso comum. As trilhas podem sim persistir no céu por horas e inclusive se transformar em nuvens Cirrus, Cirrostratus e até Cirrocumulus. O estudo da formação de nuvens é uma área que começou a se desenvolver no início do séculos XX. Os fenômenos de condensação de trilhas por aviões e seus diferentes comportamentos já são conhecidos e catalogados há décadas. Como podemos ver no vídeo abaixo


A segunda alegação é a de que "as trilhas estão sendo vistas pelo mundo todo em maior quantidade do que antigamente". Bem isso se deve a alguns fatores. Primeiramente, as trilhas persistentes sempre existiram, mas eram vistas em menor quantidade pois foi justamente nas ultimas três décadas que a aviação comercial mundial explodiu de forma massiva. Aliando isso ao boom da globalização  e tecnologia de informação (internet etc); onde cada pessoa possui em mãos um celular com câmera e internet, capaz assim de fotografar e compartilhar instantaneamente na rede suas fotos do céu, cria-se a falsa percepção de que o fenômeno está sendo visto hoje e no passado não existia. Outro fator é que antes, sem câmeras e celulares, mesmo que uma pessoa visse uma trilha persistente e se interessasse pelo que viu, no máximo ia comentar com um ou mais amigos o que viu. Não é como hoje, onde há uma partilha simultânea de informações e a teoria lançada na internet conduzindo um determinado grupo de pessoas a uma mesma ideia e aglutinando esses dados.   

É fato que durante a guerra do Vietnã foram usados aviões para borrifar elementos na atmosfera visando dificultar a ação do inimigo. Isso é um fato! Agora disso não se pode inferir que "hoje estamos sendo vitimas de um plano de engenharia climática global". Uma coisa não implica necessariamente na outra. E sobre a questão de existirem patentes de geoengenharia, isso também não implica que haja uma operação clandestina global em andamento, tal como podemos ver no artigo abaixo.

Patentes Como Evidência de Chemtrails? Um olhar mais apurado. 

Em relação à questão dos testes feitos na Califórnia sobre o alumínio e que foram expostos no documentário What In The World Are They Spraying, já foram propostas refutações que merecem a atenção de todos:

What In The World A. T. Spraiyng. Uma verdade absoluta? Confira!

Erros Factuais em "Why In The World Are They Spraying".

Pois bem, a única forma descobrir se a teoria é real, é fazer o mesmo que os policiais fizeram no caso de Marina Joyce: averiguando o fenômeno de forma direta e não através da internet. A unica forma de descobrir se as trilhas são químicos pulverizados é observando diretamente o fenômeno em ação nos céus. Mas não somente com os olhos e sim com equipamentos corretos de fotografia e rastreamento. Qualquer pessoa que deseja ter a certeza de que o rastro que foi visto por ela era químico ou não é rastrear a aeronave no Flightradar24 e com câmeras potentes fotografar a mesma aeronave passando no céu no momento em que solta a trilha. Assim o observador tem em mãos os dados necessários para saber se está diante de um avião gerando trilhas de condensação persistente ou de um suposto avião clandestino pulverizando químicos. Nós fizemos isso sistematicamente durante o ano de 2014 e todos os aviões rastreados e fotografados eram aviões comerciais, tal como podemos ver na figura abaixo.


O dossiê completo dos registros de aeronaves feitos em 2014 se encontra disponível no link abaixo:

Rastros Químicos? Conheça os Fatos! Dossiê de provas, Confira!

No momento em que a teoria foi finalizada, incontáveis novas proposições foram agregadas ao montante para reforçar o mito. Vejamos algumas delas:

1) Rastros são vistos surgindo e desaparecendo bruscamente, como se o piloto estivesse ligando e desligando a pulverização. Fazendo as trilhas ficarem com intersecções, como se estivessem falhadas.

Alguns esclarecimentos sobre o fenômeno encontram-se no vídeo abaixo:



2) Trilhas são vistas no céu formando padrões quadriculados e até mesmo circulares.



Esclarecimentos sobre o fenômeno podem ser vistos no link abaixo:
Quer saber a explicação para os trilhas circulares? 

Rastros Quadriculados, Cruzados tipo "X".



3) Já foram tiradas fotos da parte interna desses aviões adaptados com bombonas e aparatos de pulverização.



Esclarecimentos sobre o fenômeno podem ser vistos no link abaixo:
Fotos da parte interna dos aviões borrifadores, são FAKES! CONFIRA O HOAX!


4) Rastros que não saem das turbinas, mas de dutos instalados nas asas foram filmados e fotografados.




Esclarecimentos sobre o fenômeno podem ser vistos no link abaixo:
Alijamento de Combustível não é Chemtrail. Conheça os Fatos!


5) Aviões militares foram fotografados sendo equipados com aparatos de pulverização e soltando trilhas.



Esclarecimentos sobre o fenômeno podem ser vistos no link abaixo:
Hércules C-130 Airfire não é um avião da geoengenharia! SAIBA DIFERENCIAR ALHO DE BUGALHO!


6) Rastros anômalos e com múltiplas cores foram fotografados sendo borrifados por aviões.



Esclarecimentos sobre o fenômeno podem ser vistos no link abaixo:
Condensação Aerodinâmica e Rastros de Aerodinâmica. Intrigante Fenômeno da Física.


7) Aviões são vistos soltando um pequeno rastro central que não sai das turbinas.




Esclarecimentos sobre o fenômeno podem ser vistos no link abaixo:
Conheça a unidade chamada "Auxiliary Power Unit" ou "Unidade Auxiliar de Energia" (APU)


8) Piloto se esquece de desligar pulverização e aterriza soltando rastro espeço. 



Esclarecimentos sobre o fenômeno podem ser vistos no link abaixo:
VORTICES não são CHEMTRAILS! Aprenda a distinguir as coisas. 


9) nuvens químicas esboçando padrões e cores bizarras estão sendo vistas por todo o mundo.



Esclarecimentos sobre o fenômeno podem ser vistos no link abaixo:
NUVENS IRRIDESCENTES. Conheça em detalhes este Fenômeno da Natureza!


10) Autoridades já denunciaram tal projeto de pulverização.



Esclarecimentos sobre o fenômeno podem ser vistos no link abaixo:
Argumento de Autoridade é Prova Científica? Ted Gunderson, Russell Blaylock e Kristen Meghan. CONFIRA!


Assim como no caso do suposto sequestro e cárcere da adolescente Marina Joyce, a teoria das chemtrails mesmo sendo baseada em proposições que de forma isolada podem até ter correlação com a realidade, a teoria em si é um mito, uma construção coletiva baseada na criatividade das pessoas e no caos de informações presentes na rede. Sabemos que mesmo os policiais tendo averiguado a casa de Joyce e ela mesmo ter se reportado publicamente a respeito do assunto dizendo que tudo não passou de um engano, o mito continuará existindo e atraindo novos curioso que continuarão a procurar evidências nos vídeos da garota no intuito de encontrar mais pistas que corroborem a teoria/mito. Uma vez instaurado é muito difícil desconstruir um mito. Mesmo que se prove sua inveracidade, para seus entusiastas nem importa mais saber se é real ou não, contanto que a diversão continue. 


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